sexta-feira, 9 de janeiro de 2009


Técnica milenar de massagem, a reflexologia é usada para aliviar desde dores musculares até problemas clínicos e emocionais, como depressão e ansiedade
Por Kathia Natalie (abril/2006)

Faça o teste. Todos os dias, dedique alguns minutos do seu tempo aos pés e, sem pressa alguma, massageie-os desde os dedos até a região do calcanhar. A sensação de relaxamento será quase imediata porque, quando estimulado corretamente, o corpo é capaz de ajudar a si mesmo.

Mas o que fazer quando, mesmo com treinos e alimentação corretos, o organismo insiste em não corresponder, chegando, muitas vezes, ao esgotamento físico e mental? Uma corrente entre os adeptos da medicina alternativa e que vem ganhando apoio entre médicos e até atletas mostra que a resposta pode estar na reflexologia, ciência de origem oriental para a qual os pés e as mãos são a chave para a solução de muitos males, sejam eles físicos, psicológicos ou emocionais.

Além de serem meios de locomoção complexos - que nenhuma tecnologia artificial conseguiu superar até o momento – os pés são considerados pela reflexologia mapas do organismo humano. Os meridianos desse mapa estão ligados a todo o corpo. Pressionando corretamente esses meridianos, há reflexo no órgão correspondente.

Assim como um geógrafo é capaz de saber das características de determinada superfície só de olhar para um mapa, o reflexoterapeuta codifica o corpo humano examinando os códigos revelados nos pés do paciente.

O professor Osni Tadeu Lourenço, presidente da ABRT (Associação Brasileira de Reflexologia e Terapias Afins), membro do ICR (Internacional Council of Reflexology - EUA) e coordenador da área de Reflexologia na AMC (Associação Brasileira de Medicina Complementar), explica que:

Os pés possuem 7.200 terminações nervosas e que, por eles passam diariamente milhares de litros de sangue e líquidos extracelulares, responsáveis por transportar, dentre outras substâncias, a ATP (adenosina trifosfato, uma molécula transmissora de energia), bem como minerais, vitaminas e outros nutrientes por uma rede vascular de cerca de 22 quilômetros de comprimento.

Estas terminações nervosas se comunicam pelos canais aferentes e eferentes em um compartimento especifico do cérebro, chamados de área podal, situada na porção medial superior do cérebro e capaz de registrar não somente a parte sensitiva do pé como receber e transmitir, via terminações nervosas, informações do pleno funcionamento de cada órgão específico do corpo.

Uma vez recebidas estas informações, o cérebro envia estes sinais para os pés nas terminações nervosas que se localizam nas áreas correspondentes aos órgãos. Essas informações chegam na forma de descarga elétrica. Caso o órgão esteja saudável, a descarga é leve e moderada, não causando nenhum tipo de agressão às terminações nervosas. Mas, quando há uma patologia, estas responderão com uma dor acentuada, gerando o chamado "estresse nervoso", que passa pelo cérebro e é codificado e transformado em impulsos elétricos fortes, sobrecarregando, assim, as terminações correspondentes. Quanto maior a descarga, maior será o numero de terminações nervosas afetadas e, conseqüentemente, sua intensidade.

Esgotamento
Acostumado a atender atletas lesionados e tensos por causa de competições, Lourenço conta que a reflexologia melhora o desempenho dos corredores, previne e trata lesões, além de combater sintomas de esgotamento físico e mental. Para tanto, estimula as glândulas tireóide e paratiróide, responsáveis pelo cálcio utilizado pelo corpo no fortalecimento e distribuição musculares. A terapia também trabalha a circulação sangüínea, essencial para o bom rendimento em corredores, por meio da hipófise (glândula de secreção interna localizada na base do cérebro e com papel fundamental nos fenômenos fisiológicos). "Mexendo com os hormônios, teremos um desempenho melhor da musculatura. Além disso, trabalhamos o pâncreas e a supra-renal, que produz um hormônio chamado androgênio capaz de aumentar o desempenho e, ao mesmo tempo, permitir que o atleta não tenha tanta ansiedade, gastando, assim, menos oxigenação", diz Lourenço.

Essa massagem terapêutica é considerada pelo corredor Osmar Ferreira Pinto, 44, um divisor da carreira de atleta dele. Nadador desde a adolescência, a corrida tornou-se um vício assim que lhe foi apresentada, em 1997. De imediato, foi seduzido pelo novo esporte, iniciado apenas para melhorar a performance dentro d'água. Aos poucos, abandonou a qualidade pela quantidade, e vieram os problemas.

Pinto passou a correr cem quilômetros por semana. Além dos exageros nos treinos, ele tomava pouco líquido. Mesmo em dias quentes, não bebia mais que dois copos de água. "Acreditava na crença comum entre novatos no esporte de que menos líquido significa maior performance", confessa ele.

Com o corpo estafado, a ansiedade e a insônia tornaram-se constantes, e as conseqüências desses maus hábitos apareceram em pouco tempo: desidratação e onze pedras nos rins.

Ao procurar ajuda médica e um fisioterapeuta, o diagnóstico não foi nada animador. "Meu corpo estava ficando torcido devido aos exageros", lembra. Mesmo assim, o quadro grave não o afastou das pistas, principalmente por saber que o erro estava nos maus hábitos e não na prática do esporte. Para continuar a correr, o atleta preferiu mudar seu estilo e frear nos treinos. Apesar disso, a tensão corporal e a ansiedade continuavam e, quatro anos atrás, Pinto sofreu duas cólicas renais “insuportáveis”.

O equilíbrio físico só foi recuperado após o início das sessões de reflexologia. "Automaticamente, aumentei a ingestão de líquidos e o bem-estar chegou como um todo. A ansiedade, comum antes das competições também diminuiu", diz ele. As pedras nos rins, apesar de ainda existirem, nunca mais o incomodaram e a tensão nas costas após os treinos também sumiram. "Era um problema psicológico. Muito ansioso, eu sobrecarregava a coluna", lembra o corredor.

Viver mais e melhor
Para que nosso organismo funcione adequadamente, a reflexologia aponta que precisamos cuidar das seguintes características:

:: Alimentação e digestão adequadas
:: Inspiração e expiração corretos
:: Bom funcionamento do sistema circulatório
:: Comunicação do estado geral da célula com o cérebro
:: Bom sistema linfático, que faz a manutenção da célula ao retirar resíduos depositados nos interstícios celulares

A regra é a seguinte: se um conjunto de células formam um tecido, células doentes conseqüentemente formarão um tecido doente. Tecidos doentes formarão órgãos e sistemas doentes e, lógico, atletas doentes. Assim, o princípio fundamental da reflexologia mostra que a origem de determinada patologia reside na célula.

Nos interstícios celulares (espaços entre uma célula e outra), são encontrados vários reagentes responsáveis pela manutenção do corpo, com substâncias a serem absorvidas ou eliminados. O responsável pela limpeza da área é o sistema linfático que, com seus capilares, iniciam o trabalho nesta região, absorvendo impurezas e proteínas que entrarão no sistema linfático. Mas, segundo a reflexologia, o que nos informa sobre todo este funcionamento e se este precisa ser reparado é a terminação nervosa.

Vencendo preconceitos
Embora ainda classificada como terapia alternativa ou complementar, a reflexologia vem ganhando médicos e profissionais de saúde. "O preconceito ainda é o principal oponente”, diz a enfermeira-obstetra e reflexologista Rosemeire Sartori de Albuquerque, que, em 2003, defendeu sua tese de doutorado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Ela avaliou o uso da reflexologia em gestantes com pré-eclâmpsia, doença relacionada à hipertensão e que afeta mais de seis milhões de gestantes por ano em todo o mundo. Foram tratadas 29 gestantes com a terapia, e outras 30, sem a terapia. Entre as gestantes tratadas com reflexologia, houve diminuição da pressão assim como do grau de edema (onde???) entre as gestantes tratadas com reflexologia.

Os bebês também foram beneficiados: os filhos das mulheres que receberam a massagem tiveram melhor desempenho no teste de Ápgar, que avalia as funções vitais da criança no primeiro e no quinto minuto de vida. “Além dos resultados que apareciam nos exames clínicos, as próprias gestantes também relatavam passar por um grande bem-estar durante a massagem. Elas diziam que as dores nas costas diminuíam e que sentiam mais os movimentos do bebê”, diz Rosemeire.

No Rio de Janeiro, a prefeitura implantou um programa que oferece técnicas como acupuntura, yoga, meditação, fitoterapia e reflexologia. No Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, os funcionários fazem sessões de shiatsu e reflexologia.

Embora no Brasil ainda não existam pesquisas relacionando a prática da reflexologia com a corrida, o médico e presidente da Sociedade Paulista de Medicina do Esporte, Samir Salim Daher, se mostra confiante nos benefícios da terapia. "Cientificamente, está comprovado que os pés possuem muitas terminações nervosas, e cada uma delas está relacionada aos órgãos do corpo. Assim, se um indivíduo bem treinado faz reflexologia, estará bem relaxado e, para ele, será melhor ainda", diz o médico.

Algumas precauções
Antes de procurar a reflexologia em busca de uma simples massagem nos pés ou de relaxamento muscular, pense duas vezes. O tratamento dói, e muito, dependendo da gravidade do problema.

Quando determinada parte do corpo está afetada, o plexo nervoso no pé ligado a ela também irá doer. A regra é simples: quanto maior a dor, maior é o problema. Em alguns casos, o terapeuta convida o paciente a passar por um médico especialista para tratá-lo em parceria. Desconfie do profissional que retirar medicação ou se declarar auto-suficiente.

Para uma competição, a sugestão é que o atleta procure ajuda da reflexologia com pelo menos três meses de antecedência, dando tempo para o corpo se refazer e reestruturar. Mas se o corredor tiver lesões ou sentir que requer grande esforço para andar ou levantar, o tratamento deve ser imediato. Em geral, os resultados são obtidos em menos de um mês.

A forma de aplicação depende do perfil do paciente. Pode variar de uma a duas vezes por semana com aplicações entre 30 e 45 minutos de duração.

Contra-indicações
Apesar de ser uma técnica alternativa, a reflexologia possui contra-indicações:
:: mulheres grávidas
:: corredores com lesões recentes
:: varizes expostas
:: tromboflebites
:: quadros de dermatite
:: doenças degenerativas
:: diabetes
:: atletas cardíacos com marca-passo.

Fontes: Osni Tadeu Lourenço, presidente da Associação Brasileira de Reflexologia e Terapias Afins (ABTR), Alberto Feliciano e Píer Campadello, autores do livro “Reflexologia Energética - Massagem para os Pés”

Ferramenta antiga
A aplicação da reflexologia nos pés é conhecida como uma forma de medicina preventiva e terapêutica desde a Antiguidade, mas sua real origem ainda é uma incógnita. Evidências indicam seu surgimento na China, há 5.000 anos, embora o documento mais antigo descrevendo essa prática tenha sido encontrado em escavações no Egito, na tumba de Ankmahor, um médico da época. O pictograma descoberto data de 2.500 a 2.330 antes de Cristo.

Hoje, apesar de estar difundida em cerca de 20 países, a reflexologia possui várias teorias diferentes para explicar seu funcionamento. Trazida para o continente americano pelo médico norte-americano William H. Fitzgerald (1872-1942), em 1913, então apenas um especialista em ouvido, nariz e garganta, a reflexoterapia ganhou os Estados Unidos como zonoterapia. O médico utilizou linhas verticais para dividir o corpo em 10 zonas, daí seu nome. Anos mais tarde, Eunice D. Ingham (1899-1974) ajudou a desenvolver a reflexologia nas décadas de 30 e 40, concentrando-se nos pés.

No livro “Histórias que os Pés Contam” (Stories the Feet Can Tell Thru Reflexology/Stories the Feet Have Told Thru Reflexology), lançado em 1938 por Eunice D. Igham (1889-1974) nos Estados Unidos, a pesquisadora, uma das mais importantes divulgadoras da reflexologia no Ocidente, já alertava para descobertas que indicavam o fato de que a pressão e a massagem de certas zonas do corpo, estimulam o funcionamento fisiológico normal em outras partes do organismo, "não importando o quanto esta área possa estar distante da parte submetida ao tratamento".

Ao lado de outros médicos, ela mapeou os pés dando nome dos órgãos e glândulas correspondentes com o objetivo de ajudar as pessoas que não pudessem contar com a prescrição da reflexologia por seus médicos.

Os europeus também praticam a reflexogia desde o século 15. Nessa época, a prática era chamada de terapia de zonas e tinha por objetivo o alívio da dor e do cansaço. Há registros históricos que apontam que os antigos índios do continente americano já conheciam e usavam a massagem de zonas reflexas. Um índio cherokee via o pé da seguinte forma: "Seus pés caminham sobre a terra e através deles o seu espírito se une ao universo. Os nossos pés são o nosso contato com a terra e com as energias que fluem dela".

Na América latina, a zonoterapia e a reflexologia, como é conhecida atualmente, foram trazidas pelo Paraguai, pela missionária Margarida Gootaht, que após tratar a esposa do próprio presidente do Paraguai, passou a ensinar no Instituto Conaras, em Assunção.

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